Júlio Morais, 17


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[terça-feira, setembro 19, 2006]

Bem... Para estrear o Blog trago um de meus contos recentes, não está lá muito bom, mas estou sempre tentando melhorar para minhas criações futuras ^^
Espero que agrade...


Rosas do Casarão
(By Júlio)


A água tocava meu rosto de uma forma leve e gostosa, aliviando todo meu estresse e tensão. Molhava meus cabelos loiros; aos poucos tirava minha maquiagem, deixando meu rosto limpo e natural. Uma ótima sensação sentir a água do chuveiro, nem quente nem fria, deslizar por todo meu corpo levando todos os malefícios do dia-a-dia. Acabado esse ótimo banho, me enxugo e ponho uma roupa leve para dormir. Olho-me ao espelho para escovar minha boca que já estava com certo mal-hálito, observo meus olhos verdes com uma pesada aparência de sono.

- O dia fora muito cansativo para mim hoje. Sorte amanhã ser sábado feriado, assim ficarei de folga até o domingo para descansar. – falava baixinho para mim mesma.

Saio do banheiro para ir dormir. Deito-me na cama e me enrolo às cobertas finas e delicadas para um merecido sono.

Sete e meia da manhã, acordo com meu relógio digital de cabeceira despertando-me para um ótimo dia de folga e curtição. Assim que me levanto, vou tomar um bom banho. Visto uma roupa para o dia, pois tenho que arrumar a casa antes de tudo. Ponho uma calça jeans velhinha e uma blusa amarela, amarro meus cabelos e coloco um boné, realmente fico parecendo uma dona de casa trabalhadeira. Enfim pronta, mãos à obra, hora de dar um jeito nesta bagunça.

Assim que termino, meu telefone toca. Agitada, jogo meu boné e sento-me no sofá onde fica ao lado do telefone, atendo e ouço a voz de minha amiga de trabalho, Carla.

- Ah! Videl! Como está garota? – Gritou ela quando atendi.

- Tudo bem comigo sua maluca! E você, como está?

- Impossível estar melhor... Com esse feriadão.

- Oh! Nem me fale!

- E então? Aonde vai esta noite querida?

- Hum... Ainda não tenho nenhum programa para hoje, acabei de arrumar a casa e...

- O quê? Por favor, Videl, pleno feriado e você arrumando a casa feito uma empregada? – Disse ela indignada me interrompendo.

- Ora, você nem sabe como está minha casa para dizer isso.

- Está bem, já que você não vai sair hoje eu vou com o Marcos para a festa da Mary. Ele me convidou para me levar sabe... – ela retruca fazendo mistério.

- Sério? O Marcos te convidou? Não me diga! – respondi impressionada, pois Marcos é nada mais que o filho do dono da agência que trabalhamos.

- Oh querida, você tem que correr. Se não vai sozinha para a festa, hein?

- Não se preocupe, eu sempre vou sozinha, mas também sempre volto muito bem acompanhada...

- Ah! Sua cachorra! – disse ela insinuando uma brincadeira.

- Ei! Respeito é bom e todo mundo gosta viu... – respondi também num tom de brincalhona.

- Ta ok amiga, nos encontramos lá naquela boate onde costumamos sempre ir, de lá vamos para onde está havendo a festa. Afinal, o Marcos pode nos levar até lá sem problemas com aquele carro dele.

- Nossa! E que carro!

- Tchau Videl, nos encontramos lá às dezenove horas.

- Está bem, estarei lá esperando por vocês.

Após finalizarmos a conversa, desligo o telefone e vou comer alguma coisa, pois estava faminta. Preparo uma pequena porção de uma deliciosa macarronada, e ali faço o trabalho duro ter valido a pena.

Vejo que ainda é meio dia e ponho uma música bem relaxante para ouvir e descansar. Deito-me no sofá e ouço a bela melodia em conjunto com a voz angelical da intérprete da música.

Dançando na boate, o ritmo eletrônico me contagia. As luzes ofuscantes, chamejantes e cintilantes me levam a outro mundo, bem distante. Há uma companhia comigo, ele me acompanha nos movimentos da dança, posso sentir seu corpo junto ao meu. Com um pouco de consciência ainda, me viro e vejo de quem se trata. Surpreendo-me por um momento ao ver que era o Marcos, filho do dono da agência, num súbito momento ele me agarra, parecia me prender. Desesperada grito, mas parece que ninguém escuta, a música estava muito alta e tomava conta de qualquer outro ruído dentro do aposento. Tento me debater contra ele, no entanto ele é muito forte. Alguém se aproxima por trás de mim, não consigo reconhecer quem é, e este me enfia uma espécie de lâmina nas costas. Acordo assustada em meu sofá e sento-me aflita. Num suspiro alivio o susto, percebendo que não fora nada além de um pesadelo, passo a mão na testa suada.

- Que horas serão agora? – pergunto-me ao olhar o aparelho de som que já terminara de tocar o Cd de música.

Olho o céu pela janela e vejo que já é noite. “Minha nossa! Devo ter dormido muito!”. Olho o relógio e vejo que já são dezoito horas e trinta minutos.

- E eu que precisava chegar antes deles para conseguir a carona! – dizia nervosa.

Apresso-me para me arrumar, na esperança de chegar a tempo. Enquanto me aprontava meu celular chama, era Carla.

- Videl, já está no local do encontro?

- Ainda estou em casa terminando de me aprontar querida – disse meio sem graça.

- Nossa! Ainda! Você prefere que passemos aí para irmos de uma vez à festa em questão?

- Seria ótimo, é possível? – perguntei ainda sem graça.

- O Marcos disse que está tudo bem, estamos indo a caminho daí. Apronte-se garota! – disse ela brincando.

- Está bem! Já estou terminando. Bye! – desliguei o aparelho e voltei a me arrumar.

Visto um lindo vestido vermelho, justo à minhas curvas, que caíra bem com meu batom de vermelho forte e sedutor. Meus cabelos loiros caídos sobre meu ombro direito realçaram bem o visual. E por fim, um colar com um lindo pingente brilhante de uma cruz, apesar de eu não ser tão religiosa, mas é um de meus pingentes favoritos.

Ouço uma buzina de carro, sem dúvida eram Carla e Marcos. Olhando-me uma ultima vez em meu espelho grito que já vou, pego minha bolsa de couro preto sobre a cama, pego as chaves da casa que estavam sobre a mesinha de cabeceira e vou à porta para sair. Tranco-a com a chave e vou ao jardim, pego uma pedra falsa que é onde escondo uma chave de reserva caso eu precise, apenas para revistar se ela estava lá. E finalmente vou ao encontro deles.

Observo o elegante carro negro do Marcos.

- Vamos minha querida, assim vamos nos atrasar. – disse Carla baixando o vidro do carro.

- Oh! Sim, já estou indo. – disse sorrindo.

O próprio Marcos sai do carro e vem ao meu encontro.

- Está linda hoje, Videl. – diz ele me olhando de baixo a cima.

- Obrigada Marcos, você também está muito bem. – respondi em contratempo, observando-o.

Ele realmente não estava nada mal. De calça social e camisa preta, a qual definia bem seu físico, o deixou deslumbrante. Se não estivesse acompanhado estaria em minha mira – penso comigo mesma.

Ele abre uma das portas traseiras do carro para que eu possa me sentar no banco de trás. Antes de ele entrar no carro, Carla volta-se para trás para falar comigo.

- Não olhe muito sua sirigaita! Esta noite ele é meu! – disse ela brincando e falando de uma forma quase sussurrada.

- Ora Carla, você está muito mais elegante e bonita do que eu. Acha mesmo que ganharia de você hoje à noite? – respondi brincando, também num tom sussurrado. De qualquer forma, Carla estava muito bem vestida também. O vestido negro que ela estava se enquadrava muito bem nela, seus cabelos negros estavam muito bonitos e bem cuidados, tudo em perfeito conjunto com seu tom de pele moreno claro.

Marcos então entra no carro e senta-se para dirigir e nos levar à festa.

Após alguns quilômetros de estrada, seguidos de muita conversa entre nós, chegamos a casa onde haveria a festa. Não sei se poderia chamar aquilo de casa, pois esta é uma denominação muito simples para a enorme mansão, acho que esta seria mais adequada, embora ainda ache uma denominação fútil para a construção luxuosa.

Assim que nos aproximamos com o carro do portão de estacionamento, um funcionário, logicamente da festa, vem em nossa direção. Marcos desce o vidro e o funcionário diz que podíamos ir para a festa que ele ficara encarregado de estacionar o automóvel. Assim, saímos do carro e vamos em direção ao portão de entrada da mansão; de relance, para uma grande surpresa, somos recebidos com uma linda fonte com esculturas de anjos dos quais jorravam água. A iluminação estava deslumbrante, o que dava um toque muito acolhedor à festa, todos os que compareciam estavam muito bem vestidos sem exceção de ninguém, a mansão totalmente branca e de uma arquitetura de aspecto antigo dava ao local um toque final esplêndido. O lado de fora estava muito belo, mal esperava para ver dentro da mansão. Ao nos aproximar-mos podemos ouvir a bela melodia de ambiente da festa, eram alguns clássicos e para aumentar meu entusiasmo percebo que está havendo alguma apresentação ao vivo do lado de dentro da mansão. Assim que entramos, vemos um grande palco no salão de entrada, um carpete vermelho e macio é responsável por cobrir todo o piso do aposento, os músicos que estavam executando a linda música estavam no palco, onde haviam muitos convidados por perto observando a apresentação. Eu, Carla e Marcos nos sentamos em uma mesa próxima. O funcionário que estacionara o carro veio até nós para entregar as chaves do automóvel de Marcos. Somos servidos com alguns comes e bebes por um garçom. As luzes do salão diminuem sua intensidade e focam o grupo que se apresenta no palco, aplaudimos e observamos a apresentação. Ouvindo a melodia, num rápido momento lembro-me de meu sonho de hoje à tarde, onde eu dançava em algum lugar que aparentava ser uma boate, mas meus pensamentos são interrompidos por Carla.

- Está bem querida? – perguntou ela baixinho tocando meu ombro, preocupada.

- Sim, estou bem! – respondo saindo de um estado de transe, o qual parecia estar.

- Aconteceu algo Videl? – perguntou Marcos sem deixar de ouvir nossa conversa.

De repente me vem à mente o momento do meu sonho em que o Marcos me segura para que outro alguém me mate. Lembrando-me disso, peço a Carla para vir até o banheiro comigo.

- Sim querida. – disse ela enquanto nos levantava-mos.

- Não demorem. A Mary logo virá para a festa. Não vão querer perder o momento da chegada dela, não é?

- Sim, Marcos. – respondeu Carla, enquanto saíamos do local.

Chegando ao banheiro coletivo (sim, havia um banheiro coletivo com muitos boxes de sanitários, era realmente uma luxuosa mansão para eventos!) ponho minha bolsa sobre o encosto de pedra da pia. Ali aproveitamos para retocar nossa maquiagem, raramente entrava alguém.

- Então, o que aconteceu Videl? – perguntou Carla, curiosa para saber o que se passara.

- Estive sonhando acordada, sabe... – esse argumento foi suficiente para ele soltar uma enorme gargalhada.

- Hahahaha! Ai, você é realmente uma figura Videl. – disse ela segurando seus risos.

- Mas, me pareceu tão real! Eu dançava em algum lugar bem agitado e de repente sou assassinada!

- Ora querida, e quem faria isso a você?

- Prefiro não dizer. – respondi baixando a cabeça.

- Assim, não me ajuda também, amiga.

- Sei que vai achar estranho, mas era o Marcos...

- Não! Era realmente apenas um sonho. – disse ela me interrompendo.

- Bom, na verdade não foi ele que me assassinou no sonho, ele apenas foi cúmplice. Mas de qualquer forma, não estamos em um local nem um pouco parecido com o do meu sonho, portanto não há com o que se preocupar. – falei aliviando a mim mesma.

- Hum... Não teria tanta certeza querida. Você conhece bem a Mary, sabe que ela não vai agüentar essas musicas enjoativas por muito tempo. – disse Carla tentando me assustar. Tomamos nossas bolsas nos ombros para voltarmos à festa.

- Mas... – sou interrompida por aplausos calorosos vindos do salão, pelo jeito a Mary havia chegado.

- Vamos querida. Lembre-se que o Marcos está comigo, você não vai tomá-lo de mim com uma historinha destas, ok? – disse Carla brincando comigo enquanto saiamos do banheiro.

- Ora! Estou cheia dessas suas brincadeira, voc... – assim que saio do banheiro não encontro Carla. Ela já havia se infiltrado pela festa.

Entrando novamente no salão, desta vez sozinha, posso ver uma grande aglomeração no centro. Com certeza ali devia estar a ilustre Mary, não tenho uma amizade muito grande com ela, mas o suficiente para que ela me convidasse para a festa. Aproximo-me para falar com ela, todavia parece impossível com tanta gente que a rodeia. Após a dispersão de alguns posso finalmente dialogar com ela.

- Olá! – disse, fingindo me surpreender ao vê-la.

- Oi garota! Há quanto tempo!

- Nossa! Você como anfitriã está muito bem. Todos querendo te ver e muito bem vestida. Sem falar no local que é maravilhoso – elogiei.

- Oh! Obrigada, espero que desfrute bem da festa. Veio acompanhada?

- Não.

- Não acredito! Mas logo vai arranjar alguém. – disse ela extrovertida.

- Ora, estou muito bem, Mary – respondi brincando também.

- Sei... – disse ela – Mas logo essa música clássica vai sair de cartaz e dar lugar a uma agitada boate aqui no salão mesmo, há luzes escondidas estrategicamente para isso. Não é a toa que o aluguel deste aposento me custou tanto. – disse ela brincando.
- Você é muito esperta mesmo Mary! – exclamei, tentando esconder minha admiração frente à revelação.

- Bem, agora vou indo. Tenho que encontrar o Douglas, ele disse que não ficaria comigo enquanto falava com centenas de pessoas. – após dizer isso ela sai em direção ao seu acompanhante, eu não conhecia esse tal Douglas.

Depois do breve diálogo com Mary, tento me espalhar um pouco pela festa. Pego uma taça de bebida com um garçom que passava ali perto e vou em direção ao pátio da mansão, onde ficaria mais fácil paquerar alguém. Vou para perto da fonte de esculturas de anjos, sento-me num banco. Vejo os convidados que ali estavam conversando, mas até agora ninguém que me interessasse. Observando um pouco mais o pátio da mansão, vejo que há um local mais isolado com lindas roseiras, muito bem cuidadas. Levanto-me e vou até lá. Aproximando-me seguro uma das rosas com a mão, e sem querer me perfuro com um espinho o dedo. Acabo deixando a taça cair e levo meu dedo à boca para parar o leve sangramento.

- Se machucou? Está tudo bem? – disse alguém próximo de mim.

Olho para saber de quem se trata e vejo um lindo rapaz.

- Não! Está tudo bem! – respondo balançando a cabeça após alguns segundos de silêncio. Neste momento escuto um ruído que vem de um corredor perto dali, não sei aonde iria dar, mas era muito escuro. Percebo que havia algo ou alguém ali, quando observo que os galhos das plantas ao redor da entrada do corredor estavam se movimentando, o que me fez deduzir que o que estava ali fugiu quando olhei naquela direção.

- Tem certeza que está bem, senhorita? – disse novamente o belo rapaz vendo-me observar o corredor.

- Sim, estou. – respondi contente desta vez – a propósito, como se chama?

- Oh! Desculpe-me, me chamo Weber. Lucas Weber. E você?

- Videl, muito prazer.

Ele então beija minha mão. Estava se mostrando um homem cordial e educado.

- É... Por que não nos sentamos e conversamos um pouco Weber?

- Ótima idéia senhorita Videl.

- Pode me chamar apenas de Videl. – disse segurando em seu braço e fazendo um gesto brincalhão.

- Oh, como quiser!

Lucas era um belo rapaz, vestia um terno elegante cinza. De cor clara e olhos azuis podia seduzir qualquer mulher que quisesse. Tinha um sotaque diferente, talvez francês, mas nada posso afirmar por não conhecer bem a língua francesa. Sentamos-nos no banco próximo às roseiras. Weber chamou um garçom que passava próximo a nós. E perguntou se eu não queria uma outra taça já que a minha havia se quebrado quando derrubei. Respondi que não agora e o garçom foi dispensado. Nenhum dos dois queria iniciar a conversa, ambos olhávamos para as rosas vermelhas como sangue ao nosso redor, até que Weber decide abrir um diálogo.

- Onde você mora, Videl?

- Um pouco distante daqui. Normalmente não venho à festas, pois meu trabalho é muito cansativo.

- Ah sim, entendo.

Antes que nosso diálogo continuasse, ouvimos a voz da anfitriã Mary ao microfone. Todos os presentes voltaram suas atenções, inclusive todos nós que estávamos no pátio da mansão também.

- Boa noite meus queridos! – disse a Mary, a qual sua voz foi reproduzida em todos os aparelhos de som que existiam no local. – vamos aplaudir o ótimo espetáculo da orquestra que aqui se apresentou! – e uma grande salva de aplausos seguiu-se. – agora vamos todos agitar este local, pois festa com Mary é muita curtição! – continuou ela deixando um suspense no ar.

- O que será que essa maluca está aprontando agora? – disse Weber ao meu lado, rindo.

- Da Mary podemos esperar qualquer coisa! – respondi também fingindo me divertir, pois na verdade tinha um mau pressentimento desde que cheguei à festa.

Em seguida todas as luzes se apagam, até mesmo as que iluminavam o pátio, a mansão fica mergulhada em total escuridão. Todos se surpreendem, mas logo ouvimos novamente a voz da Mary.

- Que se inicie a festa!

E luzes cintilantes dão brilho ao interior da mansão, seguidas de uma música dançante que animou todos dentro da residência. Podiam-se ouvir os gritos do pessoal que se divertia aos excessos no interior da mansão. Luzes fluorescentes azul-marinhas acendem no pátio sem nenhum aviso prévio. Assim que o pátio fica iluminado por tais luzes fluorescentes percebo que boa parte dos convidados que ali se encontravam foram para a boate inesperada que ali aparecera.

- Nossa! Por essa eu realmente não esperava! – disse Weber – essa Mary é maluca mesmo!

- O pátio ficou com um ótimo visual! Veja a fonte como ficou linda! – sim, a fonte assim como o pátio ficou esplêndida com o efeito de tais luzes, mas no caso da mansão eu não diria a mesma coisa. Com seu aspecto arquitetônico antigo em conjunto com o jogo de luz a deixou com um ar sombrio e misterioso.

- Então? Você que ir dançar um pouco? Gosta de dançar? – perguntou Weber, devia estar louco para me deixar mais agitada para ganhar a noite.

- Sim, eu gosto de dançar, mas essa noite não vai ser possível. Estou com uma pequena lesão no tornozelo. – menti, esperando que ele caísse.

- Entendo. Que pena. – replicou ele.

- Caso queira ir, não se preocupe. – disse me preocupando com ele.

- Não! Tudo bem, não se preocupe Videl.

Um dos poucos locais que não fora bem iluminado foi aquele pequeno corredor numa extremidade do pátio. Olhei para lá, mas logo minha atenção foi tomada por Weber.

- Ainda intrigada com aquele local? – ele indagou.

- Não, pensei ter visto alguém ali.

- Impossível. Talvez se trate de algum empregado.

- Sim, talvez. – respondi com um olhar intrigante.

- Sei que você ainda está intrigada com aquele local. – ele não pôde deixar de notar meu olhar indiferente ao beco.

- Não se preocupe Lucas, está tudo bem. – retruquei tentando fazê-lo esquecer do fato.

- Por que não vamos até lá? Você quer ir? – disse ele se levantando do banco.

- Não Weber, não se preocupe com isso, não era nada!

- Ora, Videl! Venha, estamos seguros aqui na mansão. – disse me erguendo pela mão. – vamos. Nada de mal pode nos acontecer.

Sem opções tive de segui-lo. Chegamos à entrada do beco, sombrio e sujo de lodo pela umidade.

- Bem, vamos adentrar. – disse o maluco do Weber já tirando seu terno, ficando apenas com uma camisa branca de botão que estava sob a peça retirada.

- Esqueça Weber, não irei entrar aí.

Nenhuma resposta se seguiu e Weber já estava entrando no local. Entrei logo em seguida.

O corredor, ou beco, era escuro e possuía um aspecto mórbido. Fazia jus à casa de aspecto estranho. Eu e Weber andamos entre os detritos que ali estavam jogados, chegamos a um ponto onde havia um portão velho que bloqueava a passagem.

- Que bom Weber, e agora podemos voltar a festa?

- Não ainda. – respondeu ele abrindo o portão que não estava trancado.

- Como você é persistente! Não vê que aqui é um lugar pútrido e nojento!

- Vamos Videl! Veja! Ali tem algum tipo de casa.

Estávamos nos fundos do casarão, parece que ninguém se importava de limpar aquele local, ou não tinha ninguém para fazê-lo. Aproximamos-nos do casebre que ali havia, era uma velha casa de madeira meio apodrecida com o tempo.

- Vamos saber do que se trata essa casa. – Weber insistia em explorar o local.

- Não acho boa idéia Lucas Weber!

Minha advertência de nada adiantou, ele abriu a velha porta. Entrando, percebemos que não há nenhum tipo de iluminação. Lucas pega um pedaço de madeira de algum lugar e queima a ponta com seu isqueiro que tinha no bolso. Ao fazê-lo temos uma surpresa, no teto da casa estão suspensas barras de ferros que mais pareciam arpões, em cada um deles havia uma mulher. Perfuradas pelas costas, nuas e ensangüentadas. Com o choque, levo minha mão à boca e abafo o que seria um enorme grito reduzindo a um leve suspiro de terror, me agarro a Weber, este também chocado com a cena. Ouvimos passos vindo daquele velho corredor, podíamos saber que era alguém pelo barulho que os detritos faziam quando alguém caminhava por lá. Rapidamente Weber joga a improvisada tocha no chão e apaga a chama com pisadelas. Com muita pressa saímos da casa e nos escondemos atrás de umas plantas que não eram cuidadas há muito tempo, o que ajudou-nos. Observamos atentamente de quem se tratava e vimos um homem estranho, vestido com um sobretudo negro e uma calça jeans azul meio surrada. Ele entrou na casa. É aí que Weber toca meu ombro e levo um grande susto, mas antes que eu gritasse, ele me fecha a boca com a mão.

- Venha, achei um lugar para sairmos daqui. – ele falou baixinho.

Fomos praticamente rastejando para não sermos notados. Chegamos a uma pequena entrada no inferior da mansão, talvez levasse ao porão dela. Entramos ali silenciosamente e vamos parar num local mais escuro do que o anterior, minhas suspeitas estavam certas, estávamos no porão. Weber acende novamente seu isqueiro, foi o suficiente para iluminar um pequeno raio ao nosso redor. O lugar estava cheio mobílias antigas da mansão, alguns estavam cobertos por lençóis brancos. O local me dava arrepios, me agarro a Weber com medo.

- Calma, está tudo bem. Vamos dar um jeito de voltar à festa e avisar a todos deste lugar. – dizia ele tentando me encorajar.

Vimos uma escada onde levava a uma saída, pois havia um pequeno facho de luz. Indo até lá e subindo as escadas levamos um súbito susto com alguma coisa que cai sobre nós, era uma espécie de boneco que tinha olhos e boca costurados com linha. Aquilo foi suficiente para jogarmos o boneco para o alto e corrermos para fora do porão, eu já suspirava de cansada e ao mesmo tempo apavorada com tudo aquilo. Corremos por alguns corredores e entramos em uma porta, onde logo percebemos ser uma cozinha. Por sorte havia uma chave na fechadura, aproveitamos e trancamos a porta por onde entramos. Vou até uma mesa ali perto e ponho minha bolsa, enquanto Lucas, o seu terno. Tomamos um pouco de água e tentamos recuperar o fôlego.

- Mas o que será aquilo? – perguntei.

- Não sei, realmente não sei.

- Temos que sair daqui e avisar os outros.

- Sim. – disse Weber, por incrível que pareça, rindo.

- Por que está rindo agora? – indaguei surpresa.

- Por nada, nunca pensei passar por isso. – dizia ele ainda rindo.

- Realmente nenhum de nós dois esperávamos isso.

- Sabe por que fui até as roseiras e acabei falando com você?

- Por quê? – ele já estava me intrigando com todo aquele mistério.

- Por que minha atenção é voltada para esses lugares menos valorizados. Sem falar que gosto explorar coisas do tipo. Estava lá pelo mesmo intuito, Videl?

- Interessante, também havia me interessado pelo local. – respondi também rindo.

- Ora, então temos algo em comum. – disse ele brincando.

- É o que parece. – disse olhando em seus olhos quando ele se aproximou de mim.

- Teríamos algo mais em comum? – perguntou ele já próximo de mim.

- Não sei... – respondi num sussurro, que precedeu um longo beijo.

Após o beijo, nos olhamos rindo feito crianças. Mas logo nossa alegria termina quando alguém tenta abrir a porta que trancamos, chegando até a chutá-la. Eu e Weber nos olhamos e nos beijamos mais uma vez.

- Juntos estamos bem. – disse ele.

Assim tomamos nossas coisas que estavam sobre a mesa e saímos da cozinha por outra porta que ali havia. Corremos por um corredor até chegarmos ao salão, onde estava a grande boate da Mary, com nossa pressa correndo entre a multidão acabamos nos perdendo de vista.

- Weber! Weber! – gritava por ele, tentando encontrá-lo.

É aí que vejo alguém sendo arrastado por um sujeito, me arrepio ao ver que era Carla. Estava desacordada, talvez morta, enquanto era carregada sorrateiramente pelo sujeito da casa dos fundos. Tomando coragem para ir até lá impedi-lo, alguém fala comigo atrás de mim. Para minha surpresa era o Marcos.

- Vamos dançar? Enquanto a Carla não volta do banheiro. – disse ele, mas sei que escondia algo.

- Não, estou apressada. – disse eu, tentando sair de perto dele com certo mau pressentimento. Mas ele puxa-me pelo braço e me agarra e suspira em meu ouvido.

- Você não vai fazer nada! Você não viu nada!

- Solte-me! Weber! Weber! – clamava eu por Lucas, tentando me soltar de Marcos. Mas como no sonho que tive ninguém me ouvia, o som estava muito alto. Vejo que um garçom se aproxima com algumas taças e uma garrafa de bebida numa bandeja, assim que chega mais perto, rapidamente pego a garrafa e bato contra a cabeça de Marcos, fazendo-o cair no chão atordoado da pancada. Dessa vez alguns que estavam ao redor viram tudo. Weber consegue me encontrar, abraça-me e vendo Marcos caído no chão pergunta o que aconteceu.

- Não tenho tempo para lhe explicar, temos de ajudar minha amiga que foi levada pelo sujeito da casa. – disse eu desesperada.
- O Quê? Vamos tentar pedir ajuda!

Então saímos juntos tentando alertar a todos da casa dos fundos, mas ninguém dera ouvido.

- Weber. Vamos nós mesmos! Aqui ninguém nos dará atenção.

- Está bem.

Então saímos da mansão e fomos para o beco pelo qual chegamos ao casebre dos fundos. Passamos pelo corredor sujo e pelo portão velho. Ao chegarmos à velha casa, a porta estava trancada, mas havia luz acesa em seu interior. Eu e Weber nos posicionamos na frente da porta e sem nenhum prévio aviso Weber investe contra a porta de madeira velha. Ao entrarmos nos surpreendemos ao ver o sujeito fazendo algum tipo de reza, a pequena casa estava iluminada por velas negras; os corpos das moças estavam deitados no chão, posicionados ao redor dele de forma que faziam um circulo. Chegamos bem na hora em que o maldito cravara uma espécie de punhal no coração de Carla.

- Não! Carla! – gritei desesperada.

- Ora, a pancada foi forte Videl. Se tivesse batido com um pouco mais de força eu deveria estar no hospital neste momento. – era o Marcos que acabara de entrar na casa, sabia que estava envolvido em algo.

- Então você também está envolvido nisso, seu macumbeiro! Maldito! Está satisfeito com o que fizeram com a Carla? – após a pergunta é que me dou conta de que Marcos estava armado com uma arma de fogo.

- Como você fala, as vezes até me irrita sabia? – dizia ele apontando a pistola para mim e Weber. – que bom que arranjou um namorado para se aventurar pela casa.

Weber se exalta e quase avança sobre Marcos, mas o seguro para que não aconteça nenhuma tragédia. É então que o sujeito que fazia algum tipo de ritual começa a se contorcer no chão e falar alguma coisa inteligível. Todos nós olhamos assustados, inclusive o Marcos que não sabia do que aquilo se tratava, talvez não estivesse em seus planos. Vejo que há uma mesa próxima de mim que tem algum tipo de frasco com um liquido, aproveito a distração de Marcos, pego frasco e me aproximo dele enquanto ele observava assustado o sujeito.

- Obrigada pela dica da pancada. – falei e taquei-lhe o frasco na cabeça com toda a minha força, que fora suficiente para deixá-lo desacordado mais uma vez. Talvez durma um bom tempo depois disto. Agarro o braço de Weber e o puxo para sairmos do casebre, enquanto ouvimos os gritos histéricos do sujeito aliado de Marcos.

Fomos ao estacionamento da mansão.

- Venha Videl o meu carro está por aqui.

- Sim. – falei enquanto corríamos para sair dali.

Entramos no carro e saímos do estacionamento. Um último segundo foi suficiente para que eu avistasse a silhueta da misteriosa arquitetura da mansão, a música dançante, as luzes reluzentes. E seguimos pela estrada vazia e escura.

- Vou te deixar em casa, me diga onde você mora.

- Não, não se preocupe pode me deixar naquele ponto de ônibus.

- Ora, não diga isso. Claro que irei deixá-la.

Expliquei o percurso até minha casa. Ao chegarmos descemos do carro e fomos à minha porta, peguei a chave na minha bolsa para abri-la.

- Tem certeza de que está tudo bem? – perguntou Weber enquanto eu abria a porta.

- Sim, agora estou. Muito obrigada pela carona. – respondi sorrindo.

- Não foi nada, tínhamos que sair dali o quanto antes. A propósito, sinto pela sua amiga.

- Tomarei providencias amanhã mesmo!

- Posso ajudá-la nisto.

- Seria ótimo. Estava pensando em voltar amanhã lá para tomar provas.

- Tem certeza disso?

- Sim, irei lá o mais cedo possível.

- Irei com você!

- Obrigada lindo! – agradeci com um beijo. – a propósito, não gostaria de ficar? Podíamos ir lá amanhã cedo daqui mesmo, o que acha?

- Adorei a idéia. – disse ele me erguendo em seus braços e assim nos beijando.

Entramos, Weber me põe no chão. Fecho porta e vou a seu encontro, o beijo. Deixo minha bolsa no sofá da sala e ele o seu terno. Seguro sua mão para trazê-lo ao meu quarto, nos deitamos em minha cama. Da janela um doce luar iluminava parte do quarto e ali nos amamos.

Era de manhã, havia acabado de acordar. Weber dormia, observava seu rosto próximo ao meu, percebi que Weber era alguém especial com quem eu poderia contar sempre, eu o amava. Levantei-me para preparar algo para comermos, para fazer uma brincadeira vesti a camisa branca de botão dele, o que deu um toque especial a minhas roupas intimas da mesma cor. Preparei um delicioso café da manhã para nós dois, e levei para a cama para nós. Ao chegar o acordei com um beijo.

- Nossa! Que jeito especial de acordar alguém. – disse ele sorrindo. – meu pai sempre me acordou me derrubando da cama. – ri de sua piada.

- Você se tornou alguém muito especial para mim Weber. – comentei enquanto comíamos.

- Você também, Videl. – e rimos juntos. – Você ficou muito bem assim, de quem é essa camisa? – perguntou ele com um jeito brincalhão.

- Ora, de um alguém muito especial para mim. – e rimos novamente.

Após o café nos aprontamos para voltarmos a casa para adquirirmos provas para acusar o assassinato de Carla. Coloquei uma saia jeans e uma blusa verde bem confortável, pus um óculos escuro para sair. Weber com a mesma roupa de ontem à noite, a camisa branca e a calça cinza do terno, pois ainda não houvera ido em casa ainda.

Chegamos à mansão, entramos pelo portão que por sorte estava apenas fechado, não trancado. Incrível a grande eficiência dos funcionários de limpeza, pois não parecia que houve festa alguma ali no dia anterior, não havia lixo algum no pátio ao qual estávamos eu e Weber. Vimos o beco o qual entramos da outra vez, entramos. Por incrível que pareça alguém havia limpado aquele local que parecia abandonado, o portão enferrujado estava aberto. E quando nos aproximamos vimos a velha casa. Abrimos a porta e não havia ninguém ali, não havia nada na casa, os corpos, os objetos do ritual, os arpões, nada estava lá.

- Mas o que aconteceu por aqui? – perguntou Weber intrigado com o fato.

- Era o que eu também gostaria de saber.

Nesse momento ouvi a voz de alguém me chamar ao meu ouvido. Era alguém suspirando, esse alguém chamava por mim. Era Carla! Sim, era ela!

- Onde você está Carla? Responda-me! – indaguei para o nada.

- O que você está fazendo Videl? – perguntou Weber sem entender.

- A Carla, não está ouvindo?

- Não, não ouço ninguém! – e realmente não ouvia, parece que aquele chamado era apenas para mim, apenas eu ouvia a Carla naquele casebre. Ela sussurrava em meu ouvido, chamando por mim. Eu já estava enlouquecendo com aquilo. Foi então que Weber me tomou nos braços e tirou-me de dentro da casa, então a voz cessou.

- Mas o que está havendo Videl?

- Não sei Weber, pensei ouvir a Carla chamar por mim. – e me abracei a ele tirando meus óculos.

- Está tudo bem, vamos. Não há nada que possamos usar como prova.

Sai triste ao lado de Weber. Tive uma surpresa ao chegarmos ao pátio para sairmos da mansão, vi o sujeito da noite passada que matara Carla. Ele estava fazendo algum trato no jardim, vestido de jardineiro.

- Veja Weber! É ele! – disse a Weber, apontando.

- Sim, é ele! – respondeu Weber.

Nesse momento o homem se vira para nós.

- Vão querer fazer algum aluguel? – perguntou, sem nem ao menos se lembrar de nós dois.

- Assassino! Matou minha amiga! – gritei com ele.

- Não sei do que está falando moça. – respondeu ele inocente.

Então ouço de novo alguém me chamar, mas desta vez era mais alguém além de Carla, eram várias mulheres. Suspiravam, chamando por mim. Procurei de onde vinham as vozes e me surpreendi ao descobrir. Eram as rosas vermelhas, sim, eu podia ouvi-las chamar por mim, elas sussurravam meu nome pedindo socorro, podia ouvir a voz de Carla entre as outras, sem duvida as vozes vinham das rosas. Eu estava enlouquecendo.

- Videl está tudo bem? – perguntou Weber abraçando-me.

Olhei o rosto do homem, ele parecia sorrir ao ver meu desespero perante as vozes das rosas que eu ouvia.

- Só quero sair daqui Weber! O mais rápido possível! – disse eu querendo sair dali.

- Vamos. – e Weber me levou para o carro, para irmos embora.

Vejo pelo retrovisor do carro nos afastar da mansão, as vozes haviam parado. E a última coisa que vejo antes de tomarmos distância do casarão são o Marcos com uma faixa na cabeça e o sujeito de jardineiro a seu lado, ambos no portão de entrada nos vendo sair. Não queria vê-los nunca mais. Também pude notar algo, o Marcos estava com uma daquelas rosas vermelhas no bolso de sua camisa, como simples enfeite.


Escrito por Julio Capistrano || 12:02 PM