Júlio Morais, 17


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[domingo, dezembro 24, 2006]

The Vampire

Imagem meramente ilustrativa do personagem Alex. Direitos Autorais: Wycked; obra: The Vampire Armand

Alex tem quatorze anos, cursa o primeiro ano do ensino médio, é um garoto estudioso de cor clara e olhos castanhos. Não tem muitos amigos no colégio, mas pode contar com alguns colegas de classe. Quando criança seus pais se divorciaram. Ele vive com o pai, este sempre desempregado, numa casa pequena onde dividas é que não faltam, entretanto seu pai sempre consegue algum emprego fútil para pagar parte delas quando a situação é critica. Alex visita sua mãe nos domingos, mas ela parece não se importar muito com ele, casou-se com outro sujeito, muito rico, e teve mais dois filhos que não se entendem muito entre eles próprios e muito menos com Alex.

Faltavam dez minutos para o término da aula. Todos na sala conversavam, ninguém ligava a mínima para a aula de química, o professor estava explicando para as paredes. Alex estava cabisbaixo, entediado, talvez estivesse com uma dor de cabeça não muito forte, a conversa do pessoal a sua volta o deixava ainda mais estressado. Levantou o rosto, observou mais uma vez o corpo discente. Numa sala de 45 alunos todos conversavam, com exceção de Alex. Alguém toca seu ombro atrás dele.

- “Ei! Está bem jovem?” – indagara Sandra, uma das colegas mais próximas de Alex.

- “Não parece nada bem”. – disse Ronier ao seu lado, outro colega.

- “Está tudo bem!” – respondeu Alex voltando-se para os dois, sorrindo.

- “Acho que anda estudando muito, amigo”. – disse Ronier.

- “Não... estudar é sempre bom...” – respondeu novamente Alex.

O sinal do término das aulas soa e todos levantam-se das cadeiras apressados para saírem da sala, ficam apenas Alex, Sandra e Ronier; estes nunca apressados para saírem. Alex e Ronier organizam as mochilas, enquanto Sandra põe seus livros no braço para saírem. Ao deixarem o interior da escola e descerem as escadas da frente, Alex se despede de Sandra e Ronier, pois tomam rumos diferentes.

Seguindo pela avenida principal, que leva a sua casa, Alex sente o vento gostoso em seu rosto e as sombras das árvores ajudam a proteger do calor do sol. Caminhava normalmente. Após certo tempo, Alex vê um casarão velho que fica no caminho, sempre pára para observá-lo quando passa. Pensava no que poderia haver ali dentro ou quem talvez morasse ali, pois à noite algumas luzes estão acesas, mas quando lembra que tem de ir para casa ele volta à caminhada e esquece um pouco essa história.

Chegando em casa encontra seu pai bêbado deitado no sofá velho e rasgado, como não era muito raro de acontecer. Levanta-o com esforço e leva-o para o quarto, o deitando na cama. Fecha a porta com suavidade e cuidado, e vai para seu quarto. Lá ele tira o fardamento do colégio e põe uma bermuda jeans surrada e uma camiseta branca. Vai a cozinha comer algo, prepara um rápido almoço e degusta-o matando sua fome. Volta para o quarto, desta vez tranca a porta de madeira antiga e abre a janela de vidro que fica perto da sua cama. Pega sua mochila e dá uma olhada no material, para fazer algumas atividades. Quebra a cabeça com alguns exercícios de matemática, escreve algumas redações e quando não agüenta mais estudar, deita-se na cama, coloca o material no chão e dorme. Dorme profundamente, a brisa que passava pela janela para dentro do quarto o ajudava a relaxar, Alex dorme por horas.

O telefone toca, o pai de Alex acorda e vai até a sala atender. Era um colega de classe de Alex que pedia para falar com ele, o pai de Alex então vai até o quarto de seu filho, bate algumas vezes na porta que é suficiente para fazer Alex pular da cama e abrir a porta.

- “Tem alguém querendo falar com você no telefone, Alex.” – diz seu pai um pouco tonto da bebida – “o telefone está fora do gancho”.

- “Ok, obrigado.” – responde Alex pondo a mão no nariz, pois seu pai estava com um tremendo bafo de cachaça.

Chegando na sala, ele atende o telefone. Era Max, um garoto que estudava na mesma sala que ele, vivia atazanando Alex por causa de trabalhos e tarefas senão era vitima de umas boas pancadas.

- “Como está a minha pesquisa de história que te mandei fazer? Preciso que esteja ótima para que eu obtenha uma nota alta, não posso ficar com nota baixa em história, pois posso repetir o ano, sabe como é...” – dizia Max num tom sarcástico e irônico, pouco se importando com o sacrifício de Alex.

Por um momento Alex fica calado, ele não fizera a pesquisa do Max. “Alex! Alex!” – gritava Max pelo telefone. Mas não seria agora que iria apanhar por não fazer uma pesquisa imbecil, pensava ele.

- “Claro! Eu te entrego amanhã, pode deixar”. – respondeu Alex inseguro.

- “Sim, ok... Estarei esperando”. – então Max desliga o telefone.

Alex corre para seu quarto, organiza seu material e diz ao pai que vai a biblioteca fazer algumas pesquisas. Veste-se rapidamente com sua calça e uma camiseta preta. Ele pega uma bicicleta que pouco usa e sai em direção à biblioteca.

Já eram dezoito horas e infelizmente Alex não havia chegado a tempo para pegar algum livro. O jeito era voltar de mãos vazias, podia ir à casa de sua mãe, mas os filhos dela não o deixariam sair com a pesquisa inteira. Alex então volta para casa, passando pela mesma avenida quando volta do colégio, e vê a velha mansão. A luz da frente está acesa, algumas janelas estão abertas. Havia alguém lá, disso ele não duvidava. Mas era melhor ele ir logo, pois amanha iria enfrentar um grande dia no colégio.

Chegando em casa, Alex vê um bilhete de seu pai dizendo que saíra com alguns amigos, com certeza iria beber. Alex joga o bilhete sobre o sofá e vai se preparar para dormir, ele veste uma roupa mais leve e deita-se para descansar.

Ele acorda bem cedo, prepara-se para ir ao colégio. Ao abrir a porta de casa vê seu pai deitado bem ao lado, fora de casa, estava novamente bêbado. Alex o traz para dentro e sai definitivamente para o colégio. Ele segue pela avenida, como sempre sentindo a brisa em seu rosto e cabelo. Andando mais um pouco vê a mansão que admira sempre, ele pára frente ao portão e observa-a. Pensa em quem moraria ali dentro, uma mansão tão bonita como aquela, o garoto decide então tocar o interfone do casarão, mas ninguém responde a seu chamado. Após várias tentativas Alex percebe que há uma abertura entre a terra sob a grade do portão e o mesmo. Ele se agacha e percebe que pode passar por ali, só precisa passar a mochila primeiro, e é o que ele faz. Alex empurra a mochila e logo em seguida atravessa rastejando pela abertura.

Já do outro lado, ele observa a frente da mansão, a qual não estava muito bem cuidada, ervas daninhas e trepadeiras adornavam as paredes da frente, dando um aspecto de um lugar abandonado e esquecido. Aproximando-se da porta dupla enorme Alex encanta-se com os adornos do acabamento dourado da grande porta. Ele toca a maçaneta, dourada e brilhante apesar dos arranhões, ao girá-la vê que a porta está aberta. Ele então indaga ao interior escuro da mansão:

- “Olá? Tem alguém em casa?” – perguntava ele.

O menino continua andando pela casa, há muitas mobílias quebradas e rasgadas: estantes de madeiras, mesas, poltronas... Tudo rasgado e violentado por alguém, podia-se perceber as madeiras que foram vitimas de fortes contusões, fazendo Alex deduzir que houvera algum tipo de briga no local. Ao andar mais um pouco pela estranha mansão mórbida, Alex acha uma passagem para o sótão da casa, esta que ficava no teto de um quarto. Alex sobe na cama velha e puxa o alçapão que logo revela ser uma sinuosa escada para subir ao sótão. Sem hesitar para descobrir no que lá havia, o garoto sobe a escadinha e vê apenas a escuridão que ali existia. Tateando alguns objetos, ele acha uma luminária bem antiga sobre um baú velho, por sorte havia um pouco de óleo e fósforos para acender a luminária. Após o auxilio da luz, Alex observa todo o aposento que tinha roupas, móveis e livros descendentes de uma época já remota, por volta da Era Vitoriana, do mesmo modo como ilustrava os livros e documentários em relação à época que teve acesso. Ele vê as relíquias muito bem cuidadas e percebe que bem no fim do sótão há algo coberto por um fino cobertor branco. Indo até lá, Alex tenta ver o que é e puxa devagar o tecido branco, ao presenciar tal coisa ele arregala os olhos e leva sua mão à boca, era um caixão, negro e com uma enorme cruz dourada em seu centro. Assustado, o menino corre, corre... Esquece de fechar as portas dos locais por onde passou e saindo da mansão, ele ao menos fecha a porta dupla da frente em seu tamanho nervosismo. Joga rapidamente sua mochila sob o portão como fizera antes e rasteja com agilidade para sair da mansão. Ele então toma sua mochila nas costas e corre para o colégio.

Alex entra na sala de aula desesperado, estava alguns minutos atrasado. A professora de língua portuguesa pergunta se o jovem está bem, e Alex controlando sua tensão responde que sim e pede desculpas à professora. Após isso, senta-se na sua cadeira e logo é indagado sobre o que estava se passando por Ronier e Sandra. Evitando falar do assunto, Alex apenas diz que se atrasou e correu para o colégio. Embora mentir aparentasse uma tarefa fácil, o estudante não pôde deixar de pensar no ocorrido, sua atenção na aula não era das melhores, pensamentos em relação à mansão lhe vinham à cabeça. Chegara a hora do intervalo das aulas, e todos saem para comer algo ou conversar algum tipo de conversa fiada. Alex não queria comer, sentou-se solitário numa mesa isolada; Ronier e Sandra estavam reunidos com outros da turma, divertiam-se.

O jovem estava pensativo, cabisbaixo, pensando no que vira. Afinal, o que significavam todas aquelas relíquias, e, o que mais lhe intrigava e assustava, aquele caixão bem no sótão da casa? Alex percebe alguém sentar a seu lado, ele levanta seu rosto e vê que é Sandra oferecendo-lhe um copo de refrigerante.

- “Acho que meu amigo não está bem, não é?” – diz ela sempre com seu sorriso.

- “Tudo bem Sandra, não se preocupe” – diz Alex recusando o copo.

- “Não quer falar de nada, Alex? Não parece bem”.

- “Estou bem, sim. Juro”. – Respondia Alex com um sorriso insensato.

Enquanto Sandra tentava arrancar alguma conversa de Alex, é aí que chega Max e senta-se no outro lado de Alex.

- “E então meu amigo? Onde está minha pesquisa de história?” – já dizia ele.

- “Não vê que ele não tem tempo para suas pesquisas, Max? Já está na hora de aprender a fazer suas atividades sozinho!” – implicou Sandra antes mesmo que Alex falasse algo.

- “Não se intrometa Sandra, você sabe que este é um assunto entre eu e o Alex”. – continuo ele ironizando.

- “Tenha calma Max, eu apenas esqueci a maldita pesquisa em casa. Juro como já está feita, lhe entregarei antes do prazo pedido! Não se preocupe”.

A pesquisa de história já era para ser entregue depois de amanhã. Alex já tinha feito a sua, claro, mas não podia fazer a pesquisa de Max igual à dele. Ele precisaria de muitas fontes de pesquisa para poder fazer um bom trabalho, sem plagiar o seu próprio. E como a entrega já estava próxima, Alex já ficava cada vez mais inquieto com isso.

Em casa, Alex pesquisa em todas as suas fontes, mas nada de inovador poderia usar para a pesquisa do Max. Na biblioteca não encontrou muita coisa nova, a maioria dos exemplares sobre o assunto ele já tinha em casa, e os utilizara para sua própria pesquisa. O que conseguiu não iria satisfazer Max, na certa o brutamonte já estaria reprovado com um trabalho tão pouco explorado como aquele. Eram sete horas da noite, Alex voltava da biblioteca, estava indo para a ponte ali perto, não estava com saco de chegar em casa e ter de cuidar de seu pai que estava mais alcoólatra do que nunca.

Sentando bem no centro da pontezinha que ligava duas margens de um lago grande, ele põe seus tênis do seu lado e toca a água com o dedão de seu pé. Ele percebe uma lágrima cair sem querer na água que ondula suave assim que a gota despenca de seu rosto. Ele olha a pesquisa de Max, com raiva por ser tão humilhado, também lembra-se de seus pais, separados, uma mãe que não dá a mínima para o filho e um pai que só pensa em álcool. Ninguém poderia pedir algo pior do que esta situação. Percebendo que está tarde, Alex vai para casa, mas antes ele decide averiguar algo. Ele segue para o casarão, estava curioso quanto um fato. Afinal, alguém deveria estar ali à noite, pois luzes eram acesas na casa.

Após alguns passos até lá. Ele estava frente o portão, a luz da frente estava acesa. Alex toca o interfone como fizera antes, no entanto, depois de muito tentar ninguém o atende. Ele acha estranho, mas cria coragem e decide entrar novamente ali dentro, pondo em pratica sua infiltração infalível como da outra vez. Ele vai até a porta da frente, observa a lâmpada acesa, sinal de que havia alguém ali, ele tinha certeza disso em seu pensamento. Ele tenta abrir a porta, e ao tocar a maçaneta dourada percebe que a porta está aberta, do mesmo modo como deixara antes. Assustado, ele pensa em desistir, mas algo lhe vem à cabeça, o garoto recorda que no sótão há uma enorme estante de livros, talvez algo possa ser usado para a pesquisa! Que sorte a sua! Alex cruza os dedos e entra na casa escura, desta vez ele pouco se importa em encontrar alguém, o que focava mesmo eram os livros do sótão, que poderiam ser de grande ajuda neste momento. Seguindo pelo mesmo caminho, Alex chega ao sótão. Este estava com uma luzinha acesa bem no fundo, era a luminária que ele usara antes, alguém havia acendido ela. Quando o jovem seguia naquela direção, ele é impedido graças a sua atenção que se prende nos livros ao seu lado, numa estante. Folheando-os, Alex fica perplexo com a quantidade de informação que neles tinha, alguns estavam em francês, mas serviam de alguma ajuda mesmo assim, pois apenas os que tinham em sua língua já somavam aos montes, suficientes para a pesquisa do Max e até mesmo a sua. Agora precisaria de um local para estudo. Alex vira-se para o local da luminária, precisaria dela para trabalhar, fazendo-o, assim, ir até lá. Estava com medo de encontrar algum maníaco ou o verdadeiro dono da casa que possivelmente ficaria furioso por invadirem sua propriedade, mas nada havia lá, apenas a luminária sobre aquele caixão negro. Seu coração esfria ao vê-lo outra vez: será que havia algo ali dentro? Ou pior, será que havia alguém? Decidindo acabar com todo esse ar misterioso que o fazia suar de medo, Alex tira a luminária de cima do caixão e abre a tampa de uma só vez! Para sua surpresa, seu interior estava vazio. Sorrindo, debochando de seu próprio medo, Alex dá uma pequena e silenciosa gargalhada olhando para o caixão. Ele precisa agora fazer seu ambiente de trabalho, afinal, tem apenas uma noite para terminar a pesquisa. O garoto improvisa um caixote como escrivaninha; consegue uma tinta e uma pena, como os antigos faziam para escrever, pensa ele; e um pequeno baú como banco para sentar-se, tinha também a luz da luminária para auxiliá-lo na pesquisa. Enfim, com tudo em mãos, Alex começa a escrever.

Entretido com sua vitória, Alex não percebe alguém que estava na entrada do sótão. Observava-o estudar, aparentemente o sujeito não quis atrapalhá-lo, saindo assim do sótão e indo para outro local.

Já eram duas horas da madrugada, Alex enfim terminou as pesquisas, ambas haviam ficado ótimas, mereciam nota máxima. Preocupado com a bagunça que ali fizera, ele arruma os objetos em seus devidos locais assim como põem os livros de volta na estante. Apaga a luminária e ao sair do sótão fecha a escadinha que dá acesso ao mesmo. O jovem sai do quarto e vai à direção a saída da casa. Ao chegar na sala para sair do casarão com suas anotações, Alex vê a lareira acesa, esta pouco usada, e próximo a ela estava um sujeito branco de cabelos loiros, elegantemente vestido. Ele observava o fogo da lareira queimar, com certeza esperava alguma explicação por parte de Alex. O menino, nervoso, fala quase pondo seu coração para fora:

- “Desculpe senhor. Eu realmente não deveria ter feito isso. Ouça, eu posso pagar pelo que fiz, posso ajudar o senhor a reparar essa bagunça. Só me desculpe pelo...”. – antes de terminar de falar, Alex é interrompido pelo sujeito, que demonstra ter uma belíssima voz também.

- “Não quero que ajuste a bagunça, isso posso fazer contratando empregados. Não estou chateado, não se preocupe jovem. Mas me diga, para quê leva essas anotações?” – disse o sujeito, ainda virado para a lareira.

- “Bem... São pesquisas escolares”. – respondeu Alex envergonhado.

- “Acha interessante entrar na casa dos outros e usufruir de tais benefícios? Leituras, não podia haver algo confidencial?” – o sujeito vira-se para Alex e vai em direção a ele. O homem era belo, galante. Tinha olhos azuis e uma pele impecável.

Ao se aproximar de Alex que estava totalmente assustado, ele suspira em seu ouvido:

- “Não acha? Podia haver algo confidencial, não?”

- “Sim... Podia, m-mas eu juro co-co-como eu não iria mexer em nada, senhor”. – respondia Alex gaguejando.

- “Claro! Afinal, o que poderia haver de confidencial numa mansão abandonada, não é mesmo?”. – Disse o sujeito pegando o braço de Alex e jogando-o contra o sofá vermelho rasgado.

Alex senta-se recolhido, com medo do que o homem poderia fazer. Ainda segurava suas anotações, embora tivesse medo que o homem as tirasse dele.

- “Como se chama?” – perguntou o dono do casarão.

- “Alex, senhor”.

- “E onde estão seus pais que não vêem uma coisa destas?” – o sujeito parecia brincar quando colocava a mão no queixo enquanto falava.

- “Meus pais são pessoas que o senhor não teria o prazer de conhecer”.

- “Mesmo? Não estaria brincando comigo jovem Alex?”

- “Não, senhor. Não estou!” – respondeu Alex convicto e com seus olhos transbordando de lágrimas.

- “Hum... E ainda tem coragem de alterar a voz... Não é um garoto muito educado...” – continuava o homem ironizando a conversa.

Alex irritado com aquele diálogo altera sua voz:

- “E aquele caixão no seu sótão?! Não demonstra que é uma pessoa correta, meu senhor!”

- “Oh! Mais respeito, por favor, está falando do local onde durmo”.

- “O quê? Você dorme num ca-ca-caixão?” – disse Alex de olhos encharcados e arregalados.

O sujeito não pareceu se preocupar com a revelação, estava com um olhar mais cínico do nunca. É aí que numa velocidade sobre humana o homem toma as anotações da mão de Alex.

- “Revolução francesa... Ótimo assunto, tenho muitos livros falando sobre isso”. – disse ele tocando seu queixo.

- “Como você fez isso?” – indagou Alex aterrorizado – “Mas quem é você?!!”

- “Ora, calma garoto. Nunca viu um vampiro em toda sua vida?” – respondeu ele sarcasticamente, lendo a pesquisa de Alex.

- “O quê? Isso é impossível”. – dizia Alex com um sorriso aterrorizado no rosto.

- “Não, não é...”

- “Não posso acreditar...” – suspirou baixinho Alex.

Assustado, Alex levanta-se e corre até a cozinha. Pega uma enorme faca afiada, embora não muito usada.

- “Garoto, ainda estou com sua pesquisa!” – dizia o suposto vampiro.

Quando o elegante chega onde está Alex, o garoto põe-se a gritar:

- “Fique longe! Ou posso fazer algo com isto!” – dizia Alex empunhando a faca.

- “Não vai fazer isso, não é?” – se aproximava o vampiro sorrindo. Ele deixa as anotações sobre uma mesa, e continua a se aproximar do garoto – “Sei que não fará nada...” – dizia rindo.

- “Apenas experimente!”

Alex não tinha a intenção de machucar o sujeito, mas este se aproximava cada vez mais. Todavia, antes mesmo que Alex evitasse algum acidente, o sujeito segura suas mãos impedindo-o de evitar que a faca perfurasse o estômago dele mesmo. O vampiro olha friamente para Alex, enquanto Alex fita seus olhos azuis ao mesmo tempo em que vê a faca em suas mãos penetrar o estômago do vampiro.

- “Pare! O que está fazendo?!” – Gritava Alex histericamente, seu rosto já estava totalmente manchado e sujo de seus prantos.

- “Está vendo Alex?” – Dizia o vampiro olhando fixamente nos olhos do garoto.

Alex chorava, pedindo para que ele parasse com aquilo, até que o vampiro cai no chão, com seu ferimento bem no meio do estômago. O menino joga o instrumento do acidente, vermelho com o sangue, sobre a pia empoeirada. Alex apressa-se em socorrer o sujeito, que parece estar desacordado de olhos abertos. Abre sua camisa branca de botões com uma enorme mancha vermelha de sangue nela, e surpreende-se ao ver que a abertura estava incrivelmente se recuperando de uma forma fora do comum, simplesmente o ferimento se revitalizava perante seus olhos! Alex leva suas mãos sujas de sangue à boca, impressionado. Ele escuta o vampiro rir.

- “Não pode me matar assim, Alex.”. – diz o vampiro ainda em sua posição.

- “Não quero matá-lo!” – resmunga Alex sujando-se com suas mãos ensangüentadas.

O vampiro se levanta e segura os ombros de Alex por trás dele. O jovem levanta seu rosto e escuta o vampiro sussurrar em seu ouvido:

- “Depois que conhecemos um vampiro só temos duas escolhas a fazer: aceitar o destino cruel e servir como presa para ele; ou, tornar-se um dele...” – disse – “mas você tem sorte, jovem Alex, Não estou com fome agora...”

Alex vira-se para encará-lo, e fitando-o nos olhos diz:

- “Faça o que quiser, menos me transformar num monstro!”

- “Oh! Que coisa!” – representava o vampiro andando pela cozinha – “realmente é uma pena, você não pode escapar daqui assim Alex. Acredite, você é bem diferente dos jovens de sua idade, se tornou uma pessoa bem atraente, mas não muito lá inteligente”.

Alex caminha até sua pesquisa, pega-a e corre para a sala. O vampiro apressa-se em segui-lo, mas antes que possa agarrá-lo Alex fecha a porta bem frente a sua face. Ele fica furioso, resmunga algumas palavras e chuta alguns móveis. Alex corre pela avenida, em direção à sua casa, apavorado.

Ao chegar em casa, Alex abre a porta, percebe que seu pai já está no quarto dormindo de tão bêbado. O garoto então tranca-se em seu quarto, fecha a janela e a cortina da mesma. Cansado, senta-se em sua cama. Estava apavorado com o sujeito que supostamente seria um vampiro. Bem, se realmente fosse um, Alex não escaparia assim tão fácil, e ele tinha isso em mente. Qualquer noite poderia ser fatal para ele. Tirando seus tênis, Alex dorme ali mesmo, com a luz acesa, pois não estava muito disposto a dormir no escuro.

De manhã, Alex vê que está atrasado para o colégio. Toma um rápido banho, come uma maçã e corre para a aula.

Já sentado em sua cadeira, prestando atenção à aula de geografia, Alex olhava a todo instante para a janela, estava meio paranóico. Ao soar do toque para o intervalo ele lembra-se que esqueceu as pesquisas em casa, e Max não gostaria nada disso. Para evitar encontrar-se com Max, o estudante vai para a quadra de esportes, onde ficavam poucos alunos ali. Ele senta-se nos batentes da torcida que ficam ao redor da quadra. Fica lá a pensar. Embora Alex desejasse não encontrar Max agora, é inevitável a tentativa de manter-se longe, Max senta-se a seu lado.

- “Que bom! Agora você já pode me dar a pesquisa, Alex, afinal temos de entregar amanhã”.

- “Desculpe-me, esqueci de novo em casa”. – disse Alex com o rosto baixo e com a certeza de que levaria uns bons socos na cara.

- “Mas você não serve de nada mesmo, hein?!”

Alex já estava cheio daquilo tudo, mas não queria ser espancado ali, então prefere ficar calado.

- “Se eu não receber este trabalho até hoje à noite em minha casa você não irá gostar do que minha turma vai fazer contigo!” – ameaçava Max segurando Alex pela gola da farda.

- “Solte-me Max, você não se contenta mesmo, apesar de todo meu esforço para esta pesquisa!”

- “Pouco ligo para seu esforçozinho de merda!” – e ao dizer tal coisa, Max sai de perto de Alex – “Até hoje à noite!” – gritava ele de longe.

- “Até...” – disse Alex baixinho.

Alex ainda precisava organizar as pesquisas para serem entregues, o que reforçava mais a idéia de que terminaria apenas à noite. A noite... O que mais temia, sem falar que não podia contar o ocorrido para ninguém, pois sabia que o vampiro estaria atrás dele.

O dia transcorre sem mais incidentes. Em casa, Alex organiza as anotações para serem entregues ao professor, realmente havia feito um ótimo trabalho ali. Já à noite, era hora de sair e entregar a pesquisa de Max em suas mãos. Alex pega sua bicicleta e vai para a casa de Max, estava com muito medo, a qualquer momento o tal vampiro poderia aparecer para acertar as contas. Entrando numa rua escura, Alex cai da bicicleta, empurrado por alguém, ao se virar vê que é Max e outros garotos que o cercavam.

- “Que bom que fez minha pesquisa Alex!” – afirma Max tomando os papéis da mão de Alex.

Alex estava ainda um tanto distante da casa de Max, pelo jeito não sairia dali ileso. Um garoto o segura pela camisa:
- “Garoto, você está numa enorme enrascada”. – diz.

- “O que está acontecendo? Eu já entreguei a pesquisa como você quis Max!” – gritava Alex olhando para Max, enquanto era segurado por dois garotos.

- “Sabe Alex, meus colegas não gostaram da proposta, eles vão te bater assim mesmo. Aconselho você não ir para o colégio amanhã, não vai estar muito bem.” – disse Max, ironicamente.

Alex é jogado no centro da turma, os garotos o rodeiam, parece que nenhum estava disposto a deixar passar uma pancadinha sequer. Com medo, Alex fecha os olhos e espera. Mas tem uma surpresa, ele escuta um dos garotos ao longe se perguntar para onde ele havia ido. Abrindo os olhos surpresos percebe que está num beco perto do lugar onde estavam os garotos, alguém tapava sua boca para que não gritasse. Ao tocar o braço do repentino que aparecera para salva-lo, Alex se assusta, era o vampiro! Tentando se soltar, o vampiro o segura ainda mais forte e dá um salto para o alto de um edifício. Alex é jogado sobre o teto.

- “Você não quer acabar logo com isso?!” – grita Alex com o vampiro.

- “Acha mesmo que é isso que quero? Sabe... Estou estudando um novo aspecto dos mortais, até onde chegam sabendo de nossa existência”. – respondeu o vampiro friamente.

- “Você é repugnante...” – diz Alex baixinho.

- “Eu ouvi isso...” – replica o vampiro baixinho também.

Alex o encara com raiva. O vampiro retribui o olhar de forma serena, como se isso fosse uma reação infantil.

- “Você ainda prefere voltar para seus amiguinhos lá embaixo?” – o vampiro olhava para baixo, estavam a uma surpreendente altura.

- “Eles não são meus amigos” – responde Alex engatinhando até o fim para ver os garotos que tentaram espancá-lo. – “assim que forem embora você pode me descer, e, claro, me deixar em paz!”

- “Quer mesmo que eu o deixe em paz?” – perguntou o vampiro que se agachava perante Alex.

- “Sim!” – respondeu virando o rosto, evitando o olhar penetrante.

- “Ok! Mas quero que antes saiba de uma coisa”. – falava o vampiro se aproximando do menino, fazendo-o recuar arrastando-se pelo teto. Alex o encarava cara a cara, o seu olhar parecia penetrar seu interior e seu pensamento – “Saiba que uma vez conhecendo a verdade sobre um vampiro, nunca se deve contar a alguém, nenhuma citação em relação a isto”.

Alex continuava a recuar, ele afirma balançando a cabeça que sim, e ao fazer isto escorrega para fora do teto do prédio e cai. O jovem grita, ele cai de uma grande altura, e ao chegar perto do chão que seria seu fim certo, ele é salvo pelo vampiro que estava apoiado numa das escadas laterais do beco. Suspirando de tensão e medo, Alex olha para o vampiro, este o deixa no chão e segue seu caminho, para onde iria ninguém sabia. Alex estava sozinho no beco escuro e pútrido, ele senta-se ao lado de uma caixa de lixo para poder recuperar as energias e assim voltar para casa. Estava sem bicicleta, os amigos do Max a haviam levado, estava a pé. Pela noite fria Alex caminha para casa, não pôde deixar de pensar no aviso do vampiro, deveria guardar segredo sobre tudo aquilo. Chegando em casa, Alex cansado logo prepara-se para deitar-se e no dia seguinte ir para a aula entregar o bendito trabalho de história, tinha certeza que iria tirar uma boa nota e passar de ano invicto.

Era fim de ano, estava havendo a confraternização dos alunos na sala do primeiro ano do ensino médio. Alex nunca mais vira o vampiro. Não precisou mais fazer trabalhos para Max, pois ele havia encontrado outro aluno para atazanar. Todos degustavam comes e bebes, também dançavam ao som de uma música eletrônica. Alex estava na janela da sala olhando para as árvores da rua, estava bebendo um copo de refrigerante, já não se preocupava tanto com o vampiro. Sandra aproxima-se de Alex para abraçá-lo e diz:

- “E então, como está?” – perguntou ela sorrindo.

- “Estou bem Sandra, está pensando em viajar?”

- “Sim, acho vou visitar meus parentes do interior”.

- “Que bom” – Alex olha a seu redor e pela janela e decide contar a Sandra pelo que passara – “Sandra se eu te contar uma coisa promete guardar segredo?”

- “Claro Alex!” – respondeu ela intrigada.

- “Acredita em vam...” – quando Alex iria terminar de dizer algo ele vê um sujeito passar na rua. Ele se impressiona, pois era o vampiro que o aterrorizara há semanas atrás. Estava vestido com um casaco preto longo de couro.

- “Alex... Continue...” – Sandra interrompe o olhar surpreso de Alex para a rua ao ver o sujeito.

- “Desculpe Sandra! Tenho que ir!” – diz Alex nervoso abraçando-a.

O menino corre para fora do colégio e vê o sujeito virar a esquina ali próxima. Alex corre até lá, mas ao fazer a curva ele não vê ninguém na rua. Surpreso, ele observa a rua fria. Decide ir até o casarão. E ao se aproximar, vê que está havendo uma mudança, todos os objetos estão sendo fretados. Mas nada do vampiro. Alex pergunta a um dos homens que estava fazendo a mudança e ele responde que o dono do casarão iria vendê-lo, mas que não conhecia o tal dono, este apenas o pagara para fazer seu serviço bem feito. Pois é, ele não acreditaria que estava fazendo mudanças para um vampiro, pensava Alex.

Os anos passaram-se, Alex com 25 anos agora era médico e escritor, havia escrito três obras. Neste momento, ele estava levando sua última obra para a editora, chamava-se “The Vampire”. Dirigia seu carro, eram nove horas da noite, atravessava uma ponte, seu livro estava no banco do lado. A obra falava de tudo que ele passara em sua adolescência, principalmente o vampiro que o conhecera. Alex dirigia sem pressa e calmamente, até ouvir uma voz familiar a seu lado:

- “Hum... Ótimo livro Alex!” – sim, era o vampiro, não havia mudado em nada. Falava com a mão ao queixo como sempre costumava. Alex fica aterrorizado com tal aparição, como haveria entrado ali? – “bem, Alex, você se mostrou uma pessoa bem interessante todo esse tempo, mas eu enjoei de vasculhar sua vida, tenho de fazer algo novo. Sabe... talvez eu vá para Paris, já faz vinte anos que não vou lá. Mas enquanto a você, deixe-me ver... Olhando bem para seu livro, diria que não ouviu o meu recado. Então me resta dar-te um único adeus, afinal irei para Paris e acho que deveria me despedir de um velho amigo, não acha?”

O carro seguia pela ponte, e o que se vê é o vidro de onde estava sentando Alex espatifar, e o corpo dele voar em direção as águas escuras do rio. Alex já estava sem vida, sua cabeça ensangüentada pela pancada com o vidro e dois furos profundos em seu pescoço. Logo após sua queda, as folhas de seu livro caem uma por uma na água próximo ao corpo de Alex que flutuava pálido, sobre seu peito pousa a ultima folha que era a capa de sua obra, onde estava escrito: “The Vampire”.



Escrito por Julio Capistrano || 9:19 AM